Sunday, March 23, 2008

20 anos ouvindo The Smiths


Sem precisar fazer nenhum esforço, sou capaz de lembrar exatamente quando tomei conhecimento da existência de The Smiths. Daquele dia, até hoje, já se foram quase 20 anos. Sim, eu conheci a banda quando ela já tinha acabado, pelas mãos, ou melhor, pela voz de Mr. Morrissey, que invadia as ondas das rádios FM, quando a gente ainda nem sonhava com CDs e muito menos com MP3. A música em questão era Suedhead e o ano era 1988.
Como eu descobri que Morrissey era vocalista dos Smiths eu, sinceramente, não me lembro. Talvez pela voz inconfundível, já que Internet também era coisa inimaginável naqueles dias.
O que eu sei é que, de alguma maneira, essa informação chegou às minhas mãos e de lá, para cá, eu me lembro sempre de ter ouvido alguma coisa deles. E olhando para trás, eu percebo que, dos 14 aos 33 anos, The Smiths foi a única coisa constante na minha vida (e olha que aqui nem estou falando apenas musicalmente). Praticamente tudo que eu gostava, acreditava, admirava mudou nesse tempo (algumas voltaram - repaginadas ou não - outras foram embora de vez), mas eles não. E isso é muito raro. Porque eu sou daquelas pessoas que ouve incessantemente uma coisa e acabo enjoando a ponto de não poder nem passar perto depois. Mas com eles foi diferente.E eu simplesmente não consigo explicar o porquê. Eu sou capaz de ouvi-los por horas a fio, dias seguidos e ainda ter vontade de continuar cantando no máximo volume. Smiths me inspira, me dá vontade de caminhar no parque num dia ensolarado, de ficar em casa em companhia de um bom livro (e um CD deles, claro) em dias chuvosos, de passear por Londres, de encontrar com amigos para tomar cerveja, de escrever poesias, crônicas, livros que nunca serão publicados. Smiths dá vontade de ir pubs, de andar sem rumo pelas ruas de Londres, Birmingham, Leeds, Carlisle, Dublin, Dundee, Humberside, de “enforcar o DJ”, de se perguntar “quão cedo é agora”.Smiths é música que se ouve quando se está incrivelmente alegre ou absurdamente triste, para dançar junto ou separado, para chacoalhar, bater as mãos nas pernas enquanto se balança de um lado para o outro. É para ouvir com sol a pino ou sob o céu de estrelas, em dias nublados ou do mais intenso azul.
Uma vez me perguntaram se The Smiths era “aquela banda que te deixa com vontade de se matar quando se ouve por muito tempo”. Pode ser que sim, pode ser que não. Depende do seu estado de espírito no dia. No meu caso, dá essa vontade se eu ficar pensando nos milhares de quilômetros, um oceano e muitos euros que me separam da terra que eles cantaram (e encantaram) tão bem. Mas nem isso seria capaz de me fazer apertar o “stop” de uma vez por todas. Porque Morrissey é daqueles caras capazes de levar a gente (pelo menos eu) a qualquer lugar. Seja a festas que você já foi, ou a lugares onde você sequer se imaginou um dia. Basta fechar os olhos e concentrar na sua voz mansa...
O chato, depois, é só ter que voltar à realidade e, pior, conviver com a ignorância e pobreza musical daqueles que nunca ouviram falar deles (sim, essas pessoas existem) – mas sabem de cor todas as letras de funks, axés, etc – e que costumam ouvir de mim um sonoro “tenha dó, vai! Smiths toca na rádio!” Mas até isso fica mais fácil depois de umas musiquinhas daquela que é, de longe e sem nenhuma sombra de dúvidas, minha banda preferida.

1 comment:

Anonymous said...

nossa que legal! quando eu conheci smiths, também foi no rádio, mas um pouquinho antes. era 1986 e tocava "the boy with the thorn in his side"
smiths é eterno. e falando em coisas que você é capaz de fazer quando ouve smiths, vc foi capaz de parar o som do cervejarium e colocar 3 músicas dos smiths on repeat por pelo menos meia hora!
;)