Friday, March 28, 2008

Sexo, drogas, escândalos e... Pete Doherty


Difícil é falar de quem não conhecemos. A esse, em particular, nunca fui apresentada e nem dele me considero grande fã. Mas fica difícil, quando raros são os dias em que jornais e sites não trazem suas fotos e seu nome estampados (principalmente nas colunas de fofoca). Acabamos tendo aquela falsa sensação de intimidade, como se fosse possível conhecer alguém pelo que falam sobre ele. “Pete Doherty? Ah, sim, conheço. Me faz companhia todos os dias enquanto tomo café e leio os jornais do dia.”
“Pete joga cerveja nos jornalistas”, “Pete briga em bar”, “Pete injeta heroína em fã”, “Pete espirra sangue em jornalistas”, “Pete trai a namorada”, “Pete vai para a cadeia”, “Pete entra de novo na rehab”, “Pete estava com Amy Winehouse quando ela teve overdose”, “Pete falta a show”, a última diz que ele anda interessado em Cientologia (aquela seita, religião, sei lá o que, que tem como porta voz Tom Cruise e, na minha opinião, nada que tem Tom Cruise pode ser muito bom)...
O engraçado é que quem o vê pela primeira vez, alinhado, num terno preto, falando em abrir um abrigo para animais abandonados, não acredita que é o mesmo das manchetes dos tablóides.
Encrenqueiro, viciado, poeta, louco, polêmico, contraditório, nojento, uma causa perdida. Adjetivos não faltam para defini-lo. Há aqueles que o odeiam, mas não faltam os que o amam. E nesse último grupo devem ser incluídas as mulheres que apesar de tudo, e por incrível que pareça, continuam se jogando aos seus pés. Mas isso talvez seja culpa da incrível mania que nós temos de acreditar que tudo o que um homem problemático precisa é de uma mulher cuide dele. Coisas do tal “instinto materno”. Porque até podem existir aquelas que saem fazendo propaganda e dizendo que ele é incrível e sexy e etc, mas, daí até criar coragem para encara a fera, é um longo caminho. Já deu uma olhadinha nas mãos do cara? E nos dentes?
Mas a verdade é inegável e quando ele está disposto a fazer algo por si mesmo ou pelos fãs (ou então precisando de grana pra sustentar os vícios) ele é bom no que faz (mas isso todos sabem, afinal também é preciso talento para se meter em tantas encrencas e se safar delas) e o rapaz que já chegou a ser comparado com Lord Byron (é, eu li isso numa revista) deixa eletrizada a platéia que tem a sorte de vê-lo sóbreo, por exemplo (o que, diga-se de passagem é bem difícil já que até quando se paga por um show particular corre-se o risco de ter que esperá-lo se recuperar de um porre).
De minha parte eu acho muito difícil se recuperar com tanta gente torcendo contra. Fazer o que se nem a mãe dele acredita que ele esteja preparado para se livrar das drogas? Ela diz que ele ainda não chegou ao fundo do poço. Não? E qual seria o fundo do poço então? Só se for morte... Daí a tal rehab vira na próxima vida, não? Se bem que com certeza ele se divertiria muito lá pelos lados do inferno, porque a coisa lá deve estar bem animada, considerando os últimos que tem passado “dessa para uma melhor”. E olha que até já andam apostando na data de sua morte (mas isso é coisa meio comum, porque já vi apostarem na data da morte de várias “celebs”).
Mas, a realidade, é que eu espero que o “tal dia” demore bastante a chegar. Afinal, posso não morrer de amores por ele (o acho até meio “disgusting”) mas confesso que gosto bastante de suas músicas e sempre fico esperando pelo próximo trabalho
Eu, de minha parte, espero que acerte quem apostar numa data bem distante. Porque a despeito de todas as porcarias, eu passo boas horas ouvindo. Ainda assim, se eu tivesse que investir meu dinheiro numa bolsa de apostas inglesa, infelizmente não arriscaria um dia assim tão distante.
Enquanto isso, eu me divirto (e me revolto) com as manchetes dos tablóides e os Cds de BabyShambles e Libertines, enquanto não coloco as mãos no “"The Books of Albion, The Collected Writings of Pete Doherty”, seu diário intimo, onde ele fala de Kate Moss, dependência de drogas, poemas, criticas de cinema e fotografias, entre outras coisas. Se não valer pela qualidade literária, a menos vai servir de passatempo.

Sunday, March 23, 2008

20 anos ouvindo The Smiths


Sem precisar fazer nenhum esforço, sou capaz de lembrar exatamente quando tomei conhecimento da existência de The Smiths. Daquele dia, até hoje, já se foram quase 20 anos. Sim, eu conheci a banda quando ela já tinha acabado, pelas mãos, ou melhor, pela voz de Mr. Morrissey, que invadia as ondas das rádios FM, quando a gente ainda nem sonhava com CDs e muito menos com MP3. A música em questão era Suedhead e o ano era 1988.
Como eu descobri que Morrissey era vocalista dos Smiths eu, sinceramente, não me lembro. Talvez pela voz inconfundível, já que Internet também era coisa inimaginável naqueles dias.
O que eu sei é que, de alguma maneira, essa informação chegou às minhas mãos e de lá, para cá, eu me lembro sempre de ter ouvido alguma coisa deles. E olhando para trás, eu percebo que, dos 14 aos 33 anos, The Smiths foi a única coisa constante na minha vida (e olha que aqui nem estou falando apenas musicalmente). Praticamente tudo que eu gostava, acreditava, admirava mudou nesse tempo (algumas voltaram - repaginadas ou não - outras foram embora de vez), mas eles não. E isso é muito raro. Porque eu sou daquelas pessoas que ouve incessantemente uma coisa e acabo enjoando a ponto de não poder nem passar perto depois. Mas com eles foi diferente.E eu simplesmente não consigo explicar o porquê. Eu sou capaz de ouvi-los por horas a fio, dias seguidos e ainda ter vontade de continuar cantando no máximo volume. Smiths me inspira, me dá vontade de caminhar no parque num dia ensolarado, de ficar em casa em companhia de um bom livro (e um CD deles, claro) em dias chuvosos, de passear por Londres, de encontrar com amigos para tomar cerveja, de escrever poesias, crônicas, livros que nunca serão publicados. Smiths dá vontade de ir pubs, de andar sem rumo pelas ruas de Londres, Birmingham, Leeds, Carlisle, Dublin, Dundee, Humberside, de “enforcar o DJ”, de se perguntar “quão cedo é agora”.Smiths é música que se ouve quando se está incrivelmente alegre ou absurdamente triste, para dançar junto ou separado, para chacoalhar, bater as mãos nas pernas enquanto se balança de um lado para o outro. É para ouvir com sol a pino ou sob o céu de estrelas, em dias nublados ou do mais intenso azul.
Uma vez me perguntaram se The Smiths era “aquela banda que te deixa com vontade de se matar quando se ouve por muito tempo”. Pode ser que sim, pode ser que não. Depende do seu estado de espírito no dia. No meu caso, dá essa vontade se eu ficar pensando nos milhares de quilômetros, um oceano e muitos euros que me separam da terra que eles cantaram (e encantaram) tão bem. Mas nem isso seria capaz de me fazer apertar o “stop” de uma vez por todas. Porque Morrissey é daqueles caras capazes de levar a gente (pelo menos eu) a qualquer lugar. Seja a festas que você já foi, ou a lugares onde você sequer se imaginou um dia. Basta fechar os olhos e concentrar na sua voz mansa...
O chato, depois, é só ter que voltar à realidade e, pior, conviver com a ignorância e pobreza musical daqueles que nunca ouviram falar deles (sim, essas pessoas existem) – mas sabem de cor todas as letras de funks, axés, etc – e que costumam ouvir de mim um sonoro “tenha dó, vai! Smiths toca na rádio!” Mas até isso fica mais fácil depois de umas musiquinhas daquela que é, de longe e sem nenhuma sombra de dúvidas, minha banda preferida.